A gente já falou aqui da LEICA, a queridinha dos fotógrafos por uma série de razões, desde questões técnicas da própria máquina até um dos estranhos fetiches que nos acometem com marcas & tal.
Pois bem! Foi só hoje que eu fiquei sabendo de uma outra parte da história da Leica, e olha só que bacana: o grande chefão Ernst Leitz II & sua família salvaram várias pessoas durante a Segunda Guerra Mundial ajudando a fugir da Alemanha nazista. Péssima situação, claro, mas é bom conhecer algumas histórias heroicas sobre empresários endinheirados que se sensibilizaram com alguns absurdos – aliás, pra constrastar com o Braziu de hoje em dia, eita!
Então segue abaixo o texto encontrado hoje – inicialmente uma postagem do meu excelente ex-professor Wladimir Ungaretti, depois buscada em outras fontes e, enfim, pode ser que tenhamos alguns detalhes de tradução, mas segue a versão republicada pelo Jornal Folha da Barra, seja lá de qual Barra estarão falando, que parece ter buscado o texto do Guisheft News, ô internet véia…
LEICA E OS JUDEUS
A Leica é a câmera pioneira de 35 mm. É um produto alemão – preciso, minimalista e totalmente eficiente.
Por trás de sua aceitação mundial como ferramenta criativa estava uma empresa familiar e de orientação social que, durante a era nazista, agiu com graça, generosidade e modéstia incomuns. E. Leitz Inc., designer e fabricante do produto fotográfico mais famoso da Alemanha, salvou seus judeus.
E Ernst Leitz II, o patriarca protestante de olhos de aço que chefiava a empresa de capital fechado enquanto o Holocausto se aproximava pela Europa, agiu de forma a ganhar o título de “o Schindler da indústria fotográfica”.
Assim que Adolf Hitler foi nomeado chanceler da Alemanha em 1933, Ernst Leitz II começou a receber ligações frenéticas de associados judeus, pedindo sua ajuda para tirá-los e suas famílias do país. Como cristãos, Leitz e sua família eram imunes às leis de Nuremberg da Alemanha nazista, que restringiam o movimento de judeus e limitavam suas atividades profissionais.
Para ajudar seus trabalhadores e colegas judeus, Leitz discretamente estabeleceu o que ficou conhecido entre os historiadores do Holocausto como “o Trem da Liberdade Leica”, um meio secreto de permitir que os judeus deixassem a Alemanha sob o disfarce de funcionários da Leitz designados para o exterior.
Funcionários, varejistas, parentes e até amigos de parentes foram “designados” para os escritórios de vendas da Leitz na França, Grã-Bretanha, Hong Kong e nos Estados Unidos. As atividades de Leitz se intensificaram após a Kristallnacht de novembro de 1938, durante a qual sinagogas e lojas judaicas foram queimadas em toda a Alemanha.
Em pouco tempo, os “funcionários” alemães estavam desembarcando do transatlântico Bremen em um píer de Nova York e se dirigindo ao escritório da Leitz Inc. em Manhattan, onde os executivos rapidamente encontraram para eles empregos na indústria fotográfica.
Cada recém-chegado trazia em seu pescoço o símbolo da liberdade – uma nova câmera Leica.
Os refugiados receberam um estipêndio até que pudessem encontrar trabalho. Dessa migração vieram designers, técnicos de reparo, vendedores, profissionais de marketing e redatores da imprensa fotográfica.
Mantendo a história em segredo o “Trem da Liberdade Leica” atingiu seu auge em 1938 e no início de 1939, levando grupos de refugiados a Nova York a cada poucas semanas. Então, com a invasão da Polônia em 1º de setembro de 1939, a Alemanha fechou suas fronteiras.
Naquela época, centenas de judeus ameaçados de extinção haviam escapado para a América, graças aos esforços dos Leitzes. Como Ernst Leitz II e sua equipe conseguiram se safar?
Leitz, Inc. era uma marca reconhecida internacionalmente que refletia crédito no recém-ressurgido Reich. A empresa produziu câmeras, telêmetros e outros sistemas ópticos para os militares alemães. Além disso, o governo nazista precisava desesperadamente de moeda forte do exterior, e o maior mercado para produtos ópticos eram os Estados Unidos.
Mesmo assim, membros da família Leitz e da empresa sofreram por suas boas obras. Um alto executivo, Alfred Turk, foi preso por trabalhar para ajudar judeus e libertado somente após o pagamento de um grande suborno.
A filha de Leitz, Elsie Kuhn-Leitz, foi presa pela Gestapo depois de ser pega na fronteira, ajudando mulheres judias a cruzar para a Suíça. Ela acabou sendo libertada, mas suportou um tratamento duro durante o interrogatório. Ela também foi suspeita de tentar melhorar as condições de vida de 700 a 800 trabalhadoras escravas ucranianas, todas mulheres, que haviam sido designadas para trabalhar na fábrica durante os anos 1940.
(Após a guerra, Kuhn-Leitz recebeu inúmeras homenagens por seus esforços humanitários, entre eles o Officier d’honneur des Palms Academic da França em 1965 e a Medalha Aristide Briand da Academia Europeia nos anos 1970).
Por que ninguém contou essa história até agora?
De acordo com o falecido Norman Lipton, escritor e editor freelance, a família Leitz não queria publicidade para seus esforços heróicos. Somente depois que o último membro da família Leitz morreu, o “Trem da Liberdade Leica” finalmente veio à luz.
Agora é o assunto de um livro, “The Greatest Invention of the Leitz Família: The Leica Freedom Train“, de Frank Dabba Smith, um rabino nascido na Califórnia que atualmente mora na Inglaterra.
Guisheft News via Carrie Kaufman
Claro que a história fica muito mais misteriosa quando a família se opõe à divulgação, o que também facilita outras leituras e questionamentos. Mas como eu falei lá em cima, só hoje fiquei sabendo disso e queria te contar, ainda não li o livro (nunca nem vi, na real…) mas se rolar volto aqui pra atualização. Por aqui um breve vídeo sobre o tal trem:
Enquanto entendemos a situação, temos mais um motivo pra curtirmos a queridinha dos fotógrafos que, claro, tb faz parte do nosso jogo lindão (ó, rimou!):
Boas leituras e bons clicks!