Click Literário

Ideias, histórias & umas mentiras sobre fotografia

Escrever é fácil, mas e PINTAR com a luz?

Na primeira aula de fotografia descobre-se que FOTO + GRAFIA significa LUZ + ESCRITA, ou seja, escrever com a luz.

Mas e pra PINTAR com a luz, como faz?



Imagine-se lá em 1839 quando a fotografia foi lançada e era assunto nos mais altos círculos intelectuais, artísticos e filosóficos – falei bonito, imagina aí!

Surge a fotografia, ou melhor, o daguerreótipo lá na França apresentando-se como um aparelho técnico, de operação simples, que poderia repetir a imagem quantas vezes o autor quisesse. Era relativamente fácil e “qualquer um” poderia aprender esta tal de fotografia, tornar-se fotógrafo, tornar-se artista!

Qualidades divulgadas como facilidade pro autor e rapidez no processo foram, por outros lados, apontados como defeitos da fotografia também desde seu surgimento, em especial por artistas excessivamente apegados às regras artísticas românticas da época, ou até mesmo apegados a regras ainda mais tradicionais.

A fotografia seria um equipamento acessível a todos, e em algumas situações a própria fotografia mostrou-se assim. Pensadores importantes da época, como “titio” Baudelaire, que eu sempre gosto de citar – pra parecer erudito e até porque aconteceu mesmo, oras! -, colocaram-se contra os usos da fotografia na arte, pois a arte, a produção artística exigiria uma espécie de “dom especial”, uma inspiração, uma essência e uma sensibilidade que a fotografia não tinha por ser um aparelho técnico para preguiçosos ou pintores fracassados (disse Charles Baudelaire, esse pulha, eu fora! Depois deu altos rolos, ele nem tinha visto a exposição que disse que viu, escreveu outras cartas e artigos elogiando a fotografia e por aí vai Aqui tem um artigo do Prof. Ronaldo Entler sobre parte dessa treta, que vale conhecer).

Hoje em dia já superamos essa função toda e a fotografia tem SIM seu lugar nas artes. Pro blog do Super Clicks, tem sim! Sem brigas, pessoal, tem espaço pra todo mundo! Guarda essa historinha do Baudelaire que logo vamos retomar, segue, segue…

Nesses diferentes tempos e espaços desde 1839 a fotografia influenciou e foi influenciada por muitas artes, e um exemplo é o uso da luz para…. pintar.

Mas pintar com a luz? Como? Onde?


Pode isso, Arnaldo?
(eu nem curto futebol, mas né…)


Pintar pode, pode sim pintar onde quiser, o que quiser também pode, o COMO é que complica um pouco mas pode também. Dependendo do assunto a ser iluminado, fica mais ou menos complicado:


Usa-se para “pintar com a luz” na fotografia o princípio da longa exposição, o mesmo que cria os efeitos de “risco” com as luzes dos carros numa cidade à noite. O que está parado fica parado, o que está em movimento, como os carros com suas lanternas e faróis, fica “riscado”.

Tem gente que cria até aparelhos (o nome técnico-científico seria “gambiarra fotográfica”, acho eu…) para iluminar com várias fontes de luz e criar efeitos diferentes, confere por aí depois:

Para conseguir “pintar com a luz” são necessários alguns cuidados técnicos, como o uso de um tripé para a câmera, configurações da máquina (longa exposição, ISO baixo, diafragma mais fechado pra um maior espaço em foco) e avaliar a melhor forma de iluminar o assunto.

A prática tem nome gringo de light painting, e embora seja bastante usada como prática artística (alô, alô, Baudelaire!), também é usada em outras áreas como a Publicidade, além de um belo exercício fotográfico.

Na prática a câmera é ajustada para uma longa exposição (normalmente alguns segundos), e num ambiente escuro (estúdio, quarto… na rua complica mas também é possível, como estou contando aqui…) usam-se lanternas e luzes afins para iluminar objetos, por exemplo. Como está tudo escuro, o feixe de luz da lanterna vai “pintando” os objetos. Se a luz for apontada pra câmera, é criado o efeito de “linha”. É possível ainda executar com alguns tipos de celulares, se a câmera tiver modo Manual, opções Pro ou modo Noturno (se este modo for totalmente automático, dificulta um pouco).

Isso sem considerar as manipulações digitais da imagem, que também podem ajudar bastante a clarear ou escurecer alguma parte da foto, mas tem uma diversão extra fazer tudo isso só “na mão”.

E você, já se divertiu “brincando” de light painting? É uma técnica simples que pode ser executada em casa mesmo! Com um pouco de atenção e paciência você conseguirá resultados interessantes e divertidos, e talvez você se anime e evoluir mais e mais.

Vai lá, bons clicks!


PS pra quem gosta de desafios fotográficos:

Tudo isso sobre light painting eu lembrei quando encontrei meu amigo e parceiro de empreitadas professor Ricardo Gallarza, criador e diretor do Instituto Hügato, que recebeu o seu jogo Super Clicks. No hall do seu prédio tem a foto abaixo (ou acima), que foi o resultado de uma das sérias e ainda divertidas produções fotográficas que ele organizou com alunos de Graduação e Pós-graduação em Fotografia da Univali, em Santa Catarina, em 2009.

O prédio é uma antiga construção do centro de Florianópolis, o Mercado Público, e foi necessária uma logística especial pra apagar as luzes daquele espaço durante a noite, com a coordenação dos professores João Pacheco e Thales Trigo para iluminar todo o prédio.


Além de técnica apurada, tem uma “brincadeira séria” aí, uma diversão com aprendizado sobre a fotografia na sua essência: foto + grafia.

O resultado, além desta ampliação na parede, está na versão impressa da Revista Foto+grafia, pode ser acessada na digitalmente aqui.

Post anterior
Jogador, treinador & comentarista. Com vocês, Boris Kossoy.
Próximo post
Leica, esta nobre nobríssima câmera