Se tem um personagem de HQ que mexe com qualquer pessoa, criança, adulto ou mais experiente, é o Calvin. Ele é inteligente e sagaz, preguiçoso e maluco como uma boa criança deve ser. E todo mundo tem uma criança interior, como é universalmente sabido.
As tirinhas do Calvin e do Haroldo tratam de todos os temas possíveis, e este é apenas uma das grandes qualidades da HQ. Infelizmente o autor Bill Waterson decidiu parar de publicar as tiras do Calvin, imagine a treta do cara! A anunciada última tira é de cortar o coração, e todo seu trabalho continua um sucesso até hoje, com algumas abordagens geniais de diferentes aspectos da vida a partir do olhar de uma criança de 6 anos. Detalhe importante: SEM imbecilizá-la.
Claro que não podia faltar nossa querida e estimada FOTOGRAFIA nas histórias do Calvin, tu já viu?
Desperdiçar umas fotos no filme de casa era um pecado grande, ao menos na minha família. Embora eu quisesse mesmo, hoje em dia, ter muito mais fotos fazendo careta do que fingindo um sorriso forçado, como estou na maioria das vezes.
Eu também passei pelo constrangimento da “foto da escola”, a tradicional com um mapa mundi ao fundo, bandeira do Brasil ao lado e em pose bonita na mesa da diretora, que eu só conhecia de estar sentado do outro lado tomando puxão de orelha. Vocês também?
Se um dia eu achar essa relíquia na casa da minha mãe vou até guardar pros constrangimentos futuros…
O Calvin também entrou nessa, mas como menino espero que é conseguiu dar uma boa melhorada no visual com a ajuda do seu fiel amigo Haroldo (eu até tenho essa tirinha em português num dos meus livros, mas nem ideia em qual deles, então vamos de idioma original mesmo, dá pra encarar de boas, sabendo que CRISCO é uma marca famosa de um tipo de manteiga/margarina):
Taí o moço PREPARADO pro “Class Picture Day“. Na minha escola também era um dia especial, embora tenso. Todo mundo com a roupa de domingo, querendo ficar mais bonito ou menos feio pro registro ad infinitum. Criançada de hoje não deve mais ter isso (momento “no meu tempo”…).
E a história continua, que é outra qualidade do trampo do Watterson: muitas são tiras continuadas, que eram publicadas diariamente em vários jornais do mundo, mas faziam parte de uma grande história. Segue:
E mais:
Vai, diz aí, não é GENIAL? Não representa exatamente algum dos teus sentimentos de infância, tendo que fazer algo meio que a contragosto e tentando tirar proveito disso? Eu me reconheço bastante, hahaha…
E o Calvin também tem um olhar apurado pra curadoria e edição, sabendo reconhecer uma boa foto, a MELHOR foto do próprio pai:
Com um pouco de esforço, ele também já conseguiu as suas fotos a capricho (confesso aqui: já tentei fazer essa foto do espirro mas não consegui):
Eu nem sei se existem ainda os “álbuns da escola”, ou algo que o valha. Talvez hoje estejam todos na mesma pasta do HD da diretora, coisa assim. Taí uma coisa bonita pra gente resgatar, hein, hein? Tem vários projetos culturais e artísticos por aí buscando valorizar as pessoas justamente através do retrato (anotação mental: post apenas sobre retratos, boa!).
Pra terminar as tiras de foto, um belo exemplo do que nos lembra Roland Barthes (A Câmara Clara, 1980) sobre o ato de retratar alguém, quando estariam “disputando” quatro forças: quem o modelo realmente é, quem ele quer parecer ser, quem é julgado pelo fotógrafo, e quem será usado pelo fotógrafo para exibir sua arte:
Pausa pra reler a tirinha e ver quantas sutilezas, quantas mensagens, quantas diretas e indiretas temos nestes singelos porém profundos quatro quadrinhos. A minha preferida é “se POR ACASO eu…”.
Esses caras – Watterson, Calvin e Haroldo – são realmente ÓTIMOS!
E também segue:
Pra terminar com uma das ótimas indiretas (?) que o Haroldo manda, uma das minhas preferidas:
A todos, bons clicks e boas leituras, e um abraço tipo esse: