Você se lembra do seu primeiro beijo? A emoção, a ansiedade, o MEDO com o desejo do DESCONHECIDO, talvez até um tremor em uma perna, ou DUAS, a respiração meio compassada e tudo isso resultando num incômodo porém GOSTOSO FRIOZINHO NA BARRIGA?
É ruim, mas também sabe ser bom, e por isso o friozinho na barriga pelo “primeiro isso ou aquilo” é tão especial.
O laboratório fotográfico de revelação analógica, cada vez mais raro por diversos motivos, é um espaço de culto. E o friozinho na barriga faz parte de todo espaço de culto.
Cada laboratório é meio que sagrado. É a estrutura das paredes, bancadas e armários com o clima, é a responsabilidade e a magia do lugar. Adentar, pela primeira vez, em um laboratório de revelação com sua encantadora luz vermelha é mágico. As paredes escuras, os equipamentos novos, com sorte umas ampliações dependuradas aqui ou ali, um pedaço de filme acolá. Pra todo lado, novidades. E o cheiro, ahhhhhhhhh o cheiro! Misto de aromas artificiais com água, com lembrança de vinagre, em recipientes também assim desconhecidos, o aroma é levado pra dentro do corpo e só reforça o friozinho na barriga.
Da próxima vez que você visitar um espaço de revelação analógica, seja um laboratório profissional ou um banheiro adaptado, lembre-se do friozinho na barriga que sentiu lá na primeira vez.
Lembro até hoje quando comprei minha primeira SLR depois de muito economizar. Muito, realmente muito economizar porque era meu tempo de estagiário, de dinheiros bem, bem contados, e fazer uma aquisição dessas não era simples, mas rolou.
Uma linda-linda Pentax K 1000, o fusca das máquinas fotográficas, como alguém me explicou depois, e que está comigo até hoje. Parada, mas comigo.
Acompanhava uma lente 50 mm e uma zoom 70-200 Sigma, se bem me lembro (e não está à mão, senão eu confirmava). Comprei usada, claro, mas estava linda. Linda, linda, como diria a oma Gê. O dono foi com a minha cara (leia-se viu que era um chinelão) e me deu ainda uns filtros e um disparador, além de uma bolsinha. Baita negócio, mas pra consumá-lo foi um trampo!
Eram idos dos anos 2000 e combinei com o vendedor por e-mail. A gente se encontraria no Mercado Público de Porto Alegre, que era meio do caminho pra todos os envolvidos, ele me entregava a máquina, eu a grana, e era isso.
Cheguei na hora combinada e ninguém apareceu.
Esperi um pouco, e nada.
Comecei a imaginar que eu poderia ter caído em uma… CILADA, oh minha nossa perderei toda minha esforçada grana!
Mas nem deu tempo de dar um frio na barriga (frio é ruim, friozinho é bom) e o cara apareceu.
E ainda ganhei presentes.
Que dia, meus caros, que dia…
A cada início de semestre, quando tenho a primeira aula com qualquer turma, já conhecida ou não, eu sou balançado por um friozinho na barriga. Quase frio, na verdade, mas ainda friozinho. Se existisse uma escala poderíamos tentar aplicar, como não há, sigamos.
É uma mistura de ansiedade com será que vou dar conta, misto de ânimo pro semestre que começa com tomara que todo mundo se acerte.
No final, seja da aula, seja do ano, dá certo dum jeito ou de outro, mas esse friozinho da barriga tá sempre, sempre comigo, não importa qual aula de qual curso esteja iniciando, fato é que a toda-toda-TODA primeira aula, me bate um friozinho na barriga.
Por um lado isso faz com que eu fique esperto, porque tento fazer desse friozinho na barriga um pouco mais de atenção pra aula que começa.
Acho que tem funcionado, bora!
Tudo isso de friozinho na barriga eu lembrei nestes dias que iniciei uma atividade muito massa pela Fundação Cultural da Prefeitura de Itajaí, onde eu moro, o projeto Arte nos Bairros que tá rolando online no nosso caso.
A oficina Minha casa é engraçada? pretende misturar fotografia, literatura e música a partir do tema casa, espaço maluco este que passamos a olhar com outros olhos na pandemia. Já lemos e escutamos Vinícius de Moraes (qual o sentido da “casa engraçada”?), lemos Luis Fernando Veríssimo, conversamos sobre dicas práticas pra fotografia, texturas, limpeza visual e, claro, praticamos um pouco – e vamos praticar muito mais.
E tá sendo MUITO MASSA fazer estas oficinas porque é uma turma muito diversificada, com pré-adolescentes e adultos, e tá todo mundo interessado em foto. Ainda vão sair coisas muito massa disso tudo, trago aqui depois.
Bons clicks e boas leituras pra todo mundo, pessoal!