A Alemanha é reconhecida pelas tecnologias de ponta em diversas áreas, das engenharias às artes, e a fotografia não poderia ficar de fora. Além da Photokina, a maior feira de fotografia do mundo, o país é berço de marcas tradicionais de equipamentos fotográficos que fazem muito sucesso até hoje. E não é “só” de LEICA que vive a fotografia alemã, tem também as câmeras ROLLEIFLEX e LINHOF, e ainda a HAHNEMÜHLE como uma das mais importantes fabricantes de papeis especiais do mundo (e a saber, pra não parecer esquecimento: a fábrica de câmeras Hasselblad é sueca, a de papeis e suprimentos Agfa é belga). Mas hoje vamos tratar da Leica, objeto de desejo de 99 entre 100 fotógrafos (um deles já deve ter, imagino).
A história da Leica confunde-se (termo ruim, mas vamos nessa) com o surgimento do fotojornalismo a partir da figura do fotógrafo alemão Erich Salomon, um cara rico, boa pinta e muito bem relacionado que tinha acesso a círculos restritos da política alemã do início do século passado, e isso ainda antes dos “pais” Henry Cartier-Bresson e Robert Capa:
Suas escolhas de equipamento deviam-se à luminosidade das lentes, pois o sr. Salomon pretendia fotografar em situações de pouca luz como ambientes fechados sem o uso do flash, evitando ser visto e conseguindo captar discretamente momentos únicos. Assim, Erich Salomon aproveitou seu “poder do carteiraço” pra fazer alguns registros de situações jamais vistas, como estes políticos durante um evento importante:
Aos poucos Salomon começou a ser conhecido e reconhecido por políticos da época que passaram a agir de forma diferente na sua presença. Com isso o fotógrafo ganhou o apelido de “Rei dos Indiscretos”, como nessa imagem:
Mais algumas das fotos de Salomon podem ser vistas aqui, ou ainda nesta outra seleção especial da Time, vai lá!
Mas e o que tem o Rei dos Indiscretos a ver com a Leica?
Foi com a Leica que Erich Salomon conseguiu a tão esperada discrição para fazer seus clicks, contando com a mecânica silenciosa e delicada da Leica além da fácil operacionalização em uma máquina de alta qualidade e pequeno porte. Ou seja: uma série de evoluções técnicas que possibilitaram um “fazer fotográfico”, ou por que não dizer, uma linguagem fotográfica diferente. Depois do Salomon é que vieram Bresson, Capa e outros da Magnum, bem como os fotojornalistas como conhecemos hoje. Por isso Erich Salomon é conhecido por muitos como o “pai do fotojornalismo moderno”.
Calma, calma, nem só de silêncio se sustenta uma marca dessas por tanto tempo. Ficaria inclusive um slogan muito ruim:
Leica, a mais silenciosa das máquinas fotográficas.
Putz, péssimo!
Menos mal seria:
Leica, a câmera sem ssssshhhhiiiiiuuu.
(pegou, pegou?)
Como visivelmente eu não sirvo pra redator publicitário, sigamos com a Leica: ela é uma câmera realmente diferenciada porque oferece altíssima qualidade ótica e cromática, ou seja, belas imagens com belas cores, pra dizer o mínimo, e foi a pioneira no uso do filme 35 mm (aquele filme “normal”, caseiro, de uso amador).
Além disso, as lentes da Leica também são de primeiríssima linha, contribuindo também na ótica (nitidez, foco etc.) e nas cores (estas dependem também dos outros suprimentos como filme e papeis).
Mesmo que não seja um atributo tão diferenciado assim hoje em dia, a Leica continua bastante discreta e delicada na sua operacionalização, ou seja, uma câmera silenciosa e de fácil (e prazeroso) manuseio.
E claro que o peso da tradição, da história e da marca Leica também ajudam pra todo essa aura de “melhor câmera fotográfica de todos os tempos” – lembrando sempre que melhor é muito relativo: melhor pra quem? Em quais condições?
O fotógrafo e colecionador brasileiro Mário Bock resume da seguinte maneira:
Em 1925, ela [a Ur-Leica, que está no nosso jogo Super Clicks] ganhou a forma definitiva que até hoje impõe respeito pela qualidade, precisão, durabilidade e impecável nitidez das objetivas. Com a vantagem de ser pequena, silenciosa e fácil de usar. Outras câmeras tentaram fazer uso do filme 35 mm. Porém, foi a inovadora Leica que fez sucesso, tão grande que causou uma revolução na fotografia, tanto doméstica quanto profissional.”
(Câmeras clássicas: as máquinas fotográficas que marcaram época. 2007, pág. 32)
E tem outra coisa em que a Leica é ótima: campanhas publicitárias. E foi justamente essa “revolução” citada aí que foi o mote deste comercial que, na minha opinião, é o melhor da Leica, saca só:
Agora enxugue as lágrimas, assista novamente e perceba que, como até o narrador assume, nem todas as fotos referenciadas foram feitas com uma Leica, mas estão ali pela “revolução” que a Leica causou. Aliás, é um belo exercício tentar achar todas as fotos clássicas que estão neste comercial, vai lá!
(e depois que tentar adivinhar pra testar seu conhecimento de fotos clássicas, você pode tentar confirmar as principais nesse vídeo aqui, que eu vou deixar em link externo pra não facilitar demais hehe…)
Ainda sobre os belos comerciais da Leica, ao contrariar toda indústria fotográfica há alguns anos lançando a Leica M-Monochrom (que só fotograva em… PB! Uma digital NOVA que só fotografa em PB em 2013!!!), a empresa caprichou no lançamento e fez bonito com a campanha “Alma”, mas como esta vai ser tema de outro post no futuro (olha o spoiler aíííí, gente!), ficamos por aqui.
Pra terminar, o último comercial da Leica foi lançado há alguns dias comemorando a poesia e a beleza da fotografia, sejam as imagens de grandes fotógrafos ou de “gente como a gente”.
Além do belo VT, a empresa criou um site oficial com um pouco da história de cada foto a partir do olhar do próprio autor, o que sempre é interessante, vale conferir, além de uma breve biografia do fotógrafo e sua relação com a Leica.
Estimados leitores: eu desejo a todos, seja com sua Leica dos sonhos (quem tem? Quem tem?), seja com sua Nikon ou Canon (óia a treta!), seja com teu celular de memória cheia… eu desejo ótimos clicks pra todos nós!
Até nosso próximo encontro!
PS UTILIDADE PÚBLICA PRA VOCÊ NÃO FAZER FEIO: te liga que pela língua alemã a pronúncia correta é Lai-ca, pois auf Deutsch o som de e + i fica como a + i . Então nada de falar “Leica”, mas sim “Laica”. De nada!
PS pros queridos jogadores de Super Clicks: pensei em fazer esse post da Leica também a partir da situação inusitada vivida pelo nosso amigo Gabriel Gallarza, que numa partida de Super Clicks outro dia acabou perdendo uma Leica (a primeira!) para uma… TekPix, oooooohhhhhh!
E antes que você pense que o jogo tá com defeito, faltou revisão ou qualquer coisa do tipo, perceba que em RPM a TekPix pode SIM ser mais ágil que uma Leica (ao menos a primeira hehe). Ou, como bem disse nosso amigo Gabriel, situações como essa “fortalecem a relatividade da qualidade da própria fotografia.”