Click Literário

Ideias, histórias & umas mentiras sobre fotografia

Jogador, treinador & comentarista. Com vocês, Boris Kossoy.

Conhece alguém que manda bem na prática e na teoria? 

Sabe o cara que é um ótimo jogador, um ótimo treinador, um ótimo comentarista e, além de tudo, um ótimo professor? Pois então, na fotografia brasileira esse cara é o Boris Kossoy.

Ao longo da sua muito produtiva carreira Boris Kossoy (que não é brasileiro, mas vive aqui grande parte da vida então já é nosso, os outros países que lutem) trabalhou com fotografia publicitária, fotojornalismo e foto autoral, enveredou pelo comércio de fotografia e materiais fotográficos, dirigiu museus, depois virou professor e pesquisador, e até hoje mistura um pouco de tudo isso estudando e publicando muito. 

O mais curioso é que tem destaque em todas estas áreas, com ênfase à de pesquisador, pois são poucos que podem se vangloriar de ter recebido honrarias francesas por ter DESCOBERTO E PROVADO que, tchã-rã-rã-rammmmm, a fotografia foi inventada no Brasil-ziu-ziu-ziu

Pausa para a plateia boquiaberta: 

Oooooooohhhhhhhhhhhhh!




Mas e o Daguerre? E Niépce? O que diremos de Talbot

Sim, todos estes são grandes inventores da fotografia, cada um reconhecido por alguma peculiaridade: 

Niépce fez a primeira fotografia em 1826, aquela da janela, com sol e sombra pra todo lado, que demorou 8 (ou 6, ou 12, ninguém sabe direito…) horas pra ser feita, e há quem diga que foi um “acidente de percurso”

Daguerre associou-se a Niépce e após a morte deste acabou registrando oficialmente a fotografia de forma bastante narcísica como Daguerreótipo em 1839, e dividiu alguns louros e outros não

– Fox Talbot criou o processo positivo-negativo e publicou o primeiro livro sobre fotografia, The Pencil of Nature, em 1944

Ou seja, todos muito importantes, obrigado pela força, pessoal, tamo junto!

Masssssss aqui no nosso Brasil, lá no interior de São Paulo, na então pacata (imagino que fosse pacata à época, usei só pelo termo bonito, devo confessar…) Campinas, o “nosso” francês Hercule Florence também foi feliz com suas experiências fotográficas já em 1833, tendo sido o primeiro a usar o termo da foto + grafia de brinde.


Tudo isso e muito mais como é que eu sei? 

A partir das pesquisas do professor Kossoy, que quando não está fotografando, ou trabalhando com foto, ou não está dando aulas de foto, ou em algum evento de foto, ou publicando algum livro de… BEM, você já entendeu… ainda consegue energia pra pesquisar (foto, acreditas?). 

E numa de suas pesquisas lá no fim dos anos 70 Boris Kossoy teve contato com o acervo do Sr. Florence, foi atrás da história, repetiu os experimentos e ao fim MOSTROU E COMPROVOU que a fotografia é nossa! 

Daí ele correu o mundo em congressos, feiras, eventos, escolas e institutos de fotografia demonstrando o que havia descoberto e sabe o que aconteceu?



Nada, não aconteceu nada, nadinha! E até hoje a invenção da fotografia é atribuída ao Daguerre, fazer o quê?

Mas o fato é que foi o querido Boris Kossoy, que até hoje fotografa, dá aula, publica e é sempre parceiro pra conversar sobre fotografia, que levantou esta história e muitas outras nos seus vários livros ao longo de toda carreira.

Conheça alguns dos seus livros (e tem muitos mais, além de traduções para várias línguas):

Viagem pelo Fantástico, São Paulo: Kosmos, 1985: uma narrativa onírica bastante influenciada pela corrente literária do realismo mágico;

Fotografia & História, 3ed., São Paulo: Ateliê Editorial, 2001: um dos livros da sua trilogia mais conhecida (Realidades e Ficções na Trama Fotográfica + Os Tempos da Fotografia. O Efêmero e o Perpétuo), no qual apresenta e discute suas metodologias, técnicas e até alguns resultados de pesquisa e ensino;

Hercule Florence, a Descoberta Isolada da Fotografia no Brasil, 3ed., São Paulo: EDUSP, 2006: no qual ele conta, demonstra e COMPROVA que a fotografia é nossa, como já indica o título;

Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro; Fotógrafos e Ofício da Fotografia no Brasil (1833-1910), São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002: um apanhado de verbetes, indicações, personagens e locais importantes da fotografia dessa época (imagina a trabalheira pra levantar tudo isso!);

Boris Kossoy, Fotógrafo, São Paulo, Cosac Naify; Imprensa Oficial do Estado; Pinacoteca, 2010: uma bela edição biográfica, com sua história e imagens mais conhecidas;

E o recente O Encanto de Narciso: reflexões sobre a fotografia, de 2020, que eu recebi há pouco e ainda não consegui ler, mas em breves leituras de alguns trechos já encontramos grandes pensamentos fotográficos desta figura querida da fotografia brasileira.

Seja no estúdio ou nas ruas, diante da natureza ou no interior de um conflito, o fotógrafo filtra, elabora e processa o que vê e sente, em conformidade com a sua bagagem artística e cultural, seu repertório e experiência, seu estado de espírito.”

Fato, Imagem e Imaginação, página 113



São poucas as pessoas que podem se vangloriar de serem boas no jogo, no treino, no comentário, na reflexão, na escrita, na pesquisa, na máquina e na sala de aula, uma dessas é o Boris Kossoy. 

Toda equipe do Jogo Super Clicks registra aqui um agradecimento público pelos bons serviços prestados à nossa fotografia, professor Kossoy! Agora precisamos nos encontrar pra um jogo de Super Clicks.

Aqui na (agora extinta) Revista Foto Grafia #5 você tem um breve texto comentando o trabalho do Kossoy, confere lá!

E pra conhecer um pouco mais sobre o trabalho do Boris Kossoy, este é seu site oficial.

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